17 de jul. de 2009

Like rain with pain

- Debaixo da chuva muitas pessoas se sentem renovadas... ou, como acontece no geral, encharcadas, com frio e arrependidas por terem saído na rua num tempo tão ruim. A vontade é de chegar logo em casa, de mudar as roupas, aquecer-se e tomar alguma coisa bem quente, só assim se sentiriam revitalizadas... É, agora tudo muda... Talvez eu seja o mais estranho: desta vez a chuva e o vento congelante abrasaram meu coração... Não via coisa melhor senão deixar que cada gota gélida de água caísse sobre a pele e a arrepiasse por inteiro. Permiti que todas as minhas roupas fossem molhadas e o contrário de que essas muitas pessoas possam sentir, não... Eu não me renovei...
Levei enxurrada de poças enormes de água suja na cara, daqueles carros que sem dó adoram sacanear um coitado que passa na rua... Não fazia diferença. A única coisa com que realmente eu deveria me preocupar era em ouvir o ploc ploc do gotejar da chuva, dos pingos que iam da ponta dos meus cabelos iluminados até o chão. Minhas costas já doíam por tanto tempo tê-las deixado inclinadas e meu cotovelos pareciam tão frágeis quanto vidro, enquanto, por horas, estiveram colados aos joelhos. Minhas mãos pareciam duas velhas senhoras, já passavam de seus 95 anos, tão enrugadas que chegavam a dar pena... Se eu me levantasse desse banco de praça agora certamente que a cada passada meus coturnos fariam barulho como plástico sendo machucado. Não querendo tirar a atenção de ninguém, e ninguém estava ali, permaneci subordinado de chuva e frio... Um poste de luz laranja clareando minha sombra, o gosto salgado na boca e a solidão... Não sou como as pessoas que gostam de lareira e chocolate quente, neste momento prefiro mil vezes sentir o que verdadeiramente um ser humano sente. E mesmo que esses litros de água não façam nenhuma diferença, eles só me ajudam numa coisa: limpam meu rosto da sujeira das poças e tornam o gosto da boca agridoce...



2 comentários:

Fabyuu disse...

Caro Misael, acho que devia olhar de vez em quando o lado bom das coisas.
Nesse caso a solidão te da tempo pra pensar e a chuva te faz sentir vivo.
Levante os braços e abrace a chuva, erga a cabeça e respire o ar umido, abra os olhos olhando pro céu e sinta-se vivo. Aproveite esse momento só, e pense.

Ash disse...

Misael,

Estar vivo muitas vezes é exatamente assim: intenso e sem piedade.

Algumas pessoas passam rápidas por esses momentos, correndo atrás do abrigo e do conforto. Outras se entregam ao momento, por mais doído que seja.

 

Um Relato de Misael © 2008. Chaotic Soul :: Converted by Randomness