Levei enxurrada de poças enormes de água suja na cara, daqueles carros que sem dó adoram sacanear um coitado que passa na rua... Não fazia diferença. A única coisa com que realmente eu deveria me preocupar era em ouvir o ploc ploc do gotejar da chuva, dos pingos que iam da ponta dos meus cabelos iluminados até o chão. Minhas costas já doíam por tanto tempo tê-las deixado inclinadas e meu cotovelos pareciam tão frágeis quanto vidro, enquanto, por horas, estiveram colados aos joelhos. Minhas mãos pareciam duas velhas senhoras, já passavam de seus 95 anos, tão enrugadas que chegavam a dar pena... Se eu me levantasse desse banco de praça agora certamente que a cada passada meus coturnos fariam barulho como plástico sendo machucado. Não querendo tirar a atenção de ninguém, e ninguém estava ali, permaneci subordinado de chuva e frio... Um poste de luz laranja clareando minha sombra, o gosto salgado na boca e a solidão... Não sou como as pessoas que gostam de lareira e chocolate quente, neste momento prefiro mil vezes sentir o que verdadeiramente um ser humano sente. E mesmo que esses litros de água não façam nenhuma diferença, eles só me ajudam numa coisa: limpam meu rosto da sujeira das poças e tornam o gosto da boca agridoce...

2 comentários:
Caro Misael, acho que devia olhar de vez em quando o lado bom das coisas.
Nesse caso a solidão te da tempo pra pensar e a chuva te faz sentir vivo.
Levante os braços e abrace a chuva, erga a cabeça e respire o ar umido, abra os olhos olhando pro céu e sinta-se vivo. Aproveite esse momento só, e pense.
Misael,
Estar vivo muitas vezes é exatamente assim: intenso e sem piedade.
Algumas pessoas passam rápidas por esses momentos, correndo atrás do abrigo e do conforto. Outras se entregam ao momento, por mais doído que seja.
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