As horas se arrastavam com suas correntes pesadas, provocando um barulho que não me tirava a paz, porém. Paz essa que fazia intricar os dentes, o excesso de tranqüilidade durara pouco... Sombreando os olhos com a mão consegui ver outro par de resplandecentes asas debatendo-se quase sendo tragada pelo horizonte abismal. Meus instintos trouxeram-me de volta, eu queria planar até lá e resgatá-lo, mas... A mão desceu até a pedra, suportando meu corpo para não inclinar-se para frente ao sabor do apaixonado vento. A cabeça pendeu para um lado... Eu disse em voz seca:
- Você consegue, sempre conseguiu...
Não demoraria muito e eu já conseguia ver os espectros dançantes e opacos ruflando as asas poderosas contra aquele vento... Meus dedos crisparam a rocha, não sei se o que doía mais era a violação do curso natural que Deus impunha ou se o ato de aquele ser tocar-lhe a face e enxugar-lhe as lágrimas... Ah, meu coração deu seu tempo, o próprio parecia respirar e abrandar-se... Aliviado eu me sentia, e inútil ao mesmo tempo. Não me ergui, pois quando pude não foi necessário...
Voltei a tocar o queixo com os dedos curvados a observar apenas o curso do vento, se tocando, se entrelaçando, beijando meu rosto agora úmido e obscurecido...
2 comentários:
Para variar, você me arranca suspiros. Perfeitas palavras suaves e de tinta de sangue!
Muitas vezes, é necessário observar e não se meter.. Por mais que isso venha a doer.
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