- DEIXE-ME SAIR!!
Tivera todas as oportunidades do mundo para falar e inutilmente brigava contra uma força sobrenatural muito maior que seu próprio poder, sua própria liberdade.
Tudo a sua volta era circundado por um negrume absurdamente terrível e era como se os olhos estivessem fechados agoniados em abrir, como se costurados e pungentes e nada pudesse abri-los novamente. Os grãos de areia os cortavam e agora se pode imaginar o quão cruciante era.
- Deixe-me ir... Deixe-me ir...
Gastava o som da voz, de nada serviria... A lufada de vento se tornava ainda mais impetuosa, ainda mais poderosa, arrastava consigo as penas ensangüentadas para longe... O corpo do anjo parecia uma pena alvíssima sobre uma poça gigante de sangue, ela queria desprender-se, mas até então era impossível...
- Eu... Eu arrependo-me... Arrependo-me!
O chão era solto sob o corpo inerte de Misael, ele caia... Uma queda infinita que lhe trazia a mente o rosto materializado de um ser, e ele podia toca-lo novamente, pois os membros já poderiam aquietar-se...
Um suspiro, um sussurro... Um ambiente que se transformava... Havia neve, neve sobre a copa das árvores e um lago petrificado no qual Misael tentava reergue-se, fincar os pés e cambalear o corpo nu e friorento... Caminhar talvez, o importante era manter-se de pé... As asas novamente encurvavam, duas vezes maiores que o próprio corpo, franzino e débil... Ele não percebera, mas as feridas externas estavam cicatrizadas, os membros expurgados e tudo que lhe formava... Limpo e branco.
Mas o coração... Este sim mergulhado em desventura doía como a longas e incansáveis alfinetadas, profundas e indestrutíveis. Novamente os joelhos encontraram-se com o gelo... Os olhos embebidos em sentimento contemplavam o céu coberto de nuvens pesadas de chuva, escuras e cevadas, imponentes... Era hora de desistir... Era hora... Antes que fosse tragado finalmente... Era hora...
- Seja feita a vossa vontade...
E tudo a sua volta sumia como fumaça ao Vento...
1 comentários:
Sabes que este relato é um dos mais belos e intensos que fizeste, meu Irmão.
Sabes que conseguiste fazer tua dor tocar minha alma e minhas asas ao te relembrares o quanto nos resignamos com as vontades do Pai.
Guardo com imenso carinho tuas palavras e almejo que tuas asas alcancem tantos outros mais, para que estes conheçam a dor de tua alma.
Amo-te Irmão.
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