Eu escutei aquela frase diversas vezes: “Eu sempre volto”...
Mas dessa vez não houve sequer sombra... Sequer cheiro... Sequer sensação...
Misael erguia as asas encurvadas e elas doíam de tanto que foram enlaçadas e maltratadas por eras que se arrastavam. Ele olhava para todos os cantos, todas as nuvens possíveis e sentia medo de voar... Pela primeira vez sentiu medo do Vento e medo de ser carregado pelo seu encanto... Com os olhos cerrados e machucados conseguia ver entre lágrimas que embaçavam, os que com chicotadas castigavam suas costas, e com que grilhões amarravam seus braços e pernas, com que cordas prendiam suas asas e com que orgulho machucavam-nas... Ele via tudo, e sentia pena...
- Não me abandone, apesar de tudo, eu ainda quero seu bem...
- Maldito seja, Misael! Não me olhe deste jeito ou mandarei que meus flagelos te retirem a liberdade que tanto amas!
- Piedade de mim! Não me açoites mais!
E que pedido era aquele de olhos tão sofridos, de coração tão apertado, de sinceridade tão exposta que não conseguia ser atendido? O Anjo mais teimoso que não se põe rédeas como aos cavalos, nem se adestra como aos cães é o ser que mais sofria e sofre pelas atrocidades que o fazem pesar no lombo...
1 comentários:
Muitas vezes meu irmão, as nossas companhias nos desejam por perto, mas não assumem tal desejo. Com o tempo vão nos prendendo, se tornando grilhões e ficamos a observar tudo isso que acontece.
Alguns possuem força o suficiente para fazer com que tais ferimentos e amarras caiam pelo chão como se não fossem nada.
Mas isso não acontece com muitos, meu caro irmão e não desejo que aconteça contigo, jamais.
Não sinta pena, pois tal sentimento é algo indigno. Lembre-te meu amado irmão, do sabor amargo que sentimos à boca quando sentem pena de nós e saberás porque digo para que não sintas pena jamais das pessoas.
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