5 de fev. de 2009

O Adeus de Misael

Nos quatro cantos eu os ouvia... Ouvia os brados, o pesar somente em sua voz... Por todos os lados fui cercado, condenado por algo que sequer possuía provas. Não as havia, não estavam lá, mas mesmo assim fui condenado. Uma vez que me senti tão livre quanto a um pássaro em poder contemplar a meus irmãos de forma tão singela, eis que me mostravam as garras e as cravavam em meu coração. Repudiavam-me e mesmo que eu estivesse inconseqüente, continuavam esbravejando e cuspindo em meu rosto. Eu estava condenado... Preso, infeliz e infinitamente, em seus jogos sedutores. Faltou-me calma, eu cumpria com aquilo que me fora destinado, mas com o tempo fui fraquejando... Não podia dizer adeus, este corpo, estas asas, não voaram longe... Estiveram sempre por perto quando mais precisaram e por mais que não conseguissem enxergar, por mais que deixassem que outros ferissem seus olhos e me esquecessem, servi de guarda invisível. Pois é isso que eu faço, eu os cuido, eu os zelo. Dói-me ver lágrimas correndo por suas bochechas, pois é como se arrancassem de mim todas as penas e me lançassem contra meu inimigos, eu somente, quieto e sem forças. E apesar de por vezes meu sussurro não os chegar aos ouvidos, em uma outra hora estarei lá para eles... Para meus irmãos. Personificando compaixão mesmo que por vezes pareçam indignos... Este sou eu, que em meio aos flagelos da alma, em meio às atrocidades e culpas que me fazem carregar, com feridas perpétuas sobre as asas, pretendo ser sempre verdadeiro... Eis o que eu digo, sentirei falta... Todos os laços que nos uniam, todos os momentos, até aqueles impertinentes, que sempre nos fazíamos lembrar, já não existem mais... Eu não errei em protegê-los, não me arrependerei nunca de nada, mas levarei comigo tudo o que conquistei... Eu não tentei assassiná-los... Não pretendo mais rogar sua presença, nem tirá-los loucamente dos seus próprios caminhos para que sigam o meu. Mas se um dia os feri, se um dia com ódio me viram falar, eu peço perdão, mas não espero que me perdoem, pois por mais que eu tente, por mais que eles mesmos venham a tentar, eles não conseguiriam mais me ver por perto... Obrigado, por tudo...




 

Um Relato de Misael © 2008. Chaotic Soul :: Converted by Randomness